A atuação do professor é fundamental, mas o papel do aluno é de extrema importância para o bom desempenho do grupo.
Não é à toa que os verbos colaborar e cooperar geram dúvidas quando o assunto é educação. No dicionário Michaelis, por exemplo, ambas definições remetem um termo ao outro. Porém, segundo Kenneth Bruffee, conhecido autor na área de trabalho colaborativo, a desigualdade surge quando falamos em aprendizado cooperativo e colaborativo. Foi a necessidade de educar grupos heterogêneos que gerou a diferença entre os termos. O primeiro, é mais dirigido a escolas, com crianças e jovens. Já o colaborativo, alcança melhores resultados quando aplicados em grupos de adultos.
Alguns autores têm o termo cooperativo relacionado à intervenção do professor em relação aos trabalhos do grupo, decisões sobre tarefas, membros, supervisão do trabalho e avaliação final. Já o aprendizado colaborativo implica em uma autonomia maior dos membros, que escolhem tarefas, membros e suas próprias avaliações finais. Ou seja, o professor tem mais autoridade no processo cooperativo e menor participação no sistema colaborativo.
Muitos de vocês, leitores, já fizeram – ou fazem – cursos via internet. Então, é importante saber que no mundo online essas diferenças tendem a não ser tão evidentes. Você deve estar se perguntando: por que tenho de saber isso, se as diferenças não se aplicam ao meu universo? A resposta é muito simples: justamente para você saber a real importância do seu papel na sala de aula virtual!
No início do século passado, Lev S. Vygotsky, professor e pesquisador russo, lançou o conceito de que o desenvolvimento cognitivo é impactado por interações e relações sociais. Ou seja, aprender é uma atividade social mediada pelos colegas e professor; não uma tarefa isolada. Este é o conceito do aprendizado colaborativo.
Depois do exílio de dez anos por conta da ditadura militar, o professor, mestre e doutor Lúcio Teles voltou ao Brasil e logo embarcou para a República de Guiné Bissau (África) em 1981, para trabalhar em um projeto do mais conhecido educador brasileiro, Paulo Freire. Desde então, Teles atua na área de e-learning, quando partiu para o Canadá e fez doutorado na área de design instrucional, na Universidade de Toronto. Graduado em educação pela Universidade Johann Wolfgan Goethe, em Frankfurt (Alemanha), ele é mestre pela Universidade de Genebra (Suíça) e há 15 anos é professor adjunto da Universidade de Simon Fraser, em Vancouver (Canadá).
O Canadá foi um dos primeiros países a introduzir o ensino colaborativo online e teve um dos primeiros cursos de pós-graduação neste molde, em 1985, na Universidade de Toronto. “Planejei um curso de mestrado para professores em educação na Universidade de McMaster, em Hamilton, em 1988. Desde então, a maioria das universidades do Canadá utiliza o modelo pedagógico colaborativo”, revela. Além disso, o trabalho colaborativo tem conquistado escolas e cursos de capacitação profissional em todo o país.
Foi a partir do sucesso de seu trabalho na instituição que, em 1999, Teles fundou a TELEStraining em Vancouver, uma spin-off da Simon Fraser. Com o objetivo de oferecer soluções na área de e-learning, a empresa se tornou um dos Centros Nacionais de Excelência em Teleaprendizagem do Governo Federal Canadense.
Durante uma pesquisa de Teles com professores, na Simon Fraser, vários docentes disseram notar uma autoridade menor nas aulas virtuais, em relação às salas presenciais. É aí que se evidencia um outro modelo de autoridade, pois o professor tem mais participação no gerenciamento das atividades dos grupos. Teles garante que a liberdade de expressão, por exemplo, é maior nas aulas virtuais, pois o ambiente e as discussões assíncronas favorecem, inclusive, os alunos mais tímidos, que não se constrangem com a presença de colegas ou do próprio professor.
Como a participação do aluno é maior em aulas colaborativas online, o sucesso do aprendizado depende muito de regras claras. “Em qualquer tipo de sala de aula, o professor deve estabelecer bases de comportamento, esclarecendo as expectativas e o papel de cada estudante”, explica. Caso contrário, estudantes desmotivados podem atrapalhar o bom desempenho do aprendizado do grupo. Além disso, o educador lembra que há regras ímpares às salas de aula online – ou a “netiqueta” –, que devem ser expostas no primeiro contato. Evitar comentários pejorativos, responder às questões no mesmo dia, usar respostas positivas etc, são itens simples que facilitam o processo colaborativo.
Uma das principais missões do professor é organizar os grupos com critérios rigorosos. Isso porque a criação de grupos extremamente heterogêneos pode atrapalhar ou beneficiar o aprendizado, dependendo de como são organizados. “Todos estudantes precisam expor seus objetivos. É a partir dessas informações como trajetória, origem, formação, expectativas etc, que o professor criará grupos e, em muitos casos, terá de mudá-los, mesmo depois de formados”, explica.
Por outro lado, Dr. Teles ressalta que a heterogeneidade pode ser explorada como um fator positivo. “Na versão inglesa do programa que temos com o SENAC (Certificado em Educação Virtual), há estudantes de vários países, com culturas, idades e trabalhos diferentes. Porém o interesse comum pela área da educação gera uma certa homogeneidade, pois há professores universitários, de escolas secundárias, capacitadores etc. Este fator cria um ambiente intelectual produtivo para discussões, idéias e construção de conhecimento”, argumenta o professor. É justamente a harmonia destes fatores que gera o desenvolvimento cognitivo positivo. “Essas variáveis bem equilibradas fazem do orientador um bom agenciador do ambiente colaborativo, papel bem diferente se comparado à sala de aula tradicional.”
Quanto à competitividade entre os alunos, o melhor a fazer é utilizá-la de maneira ativa e positiva, promovendo a colaboração online. “O professor tem de aprender a usá-la como um agente favorável do processo colaborativo. Para isso, basta que o coordenador promova competições saudáveis entre grupos ou membros”, completa Teles.
Em breve, a Editora SENAC publicará o livro “Redes de Aprendizagem”, escrito pelo Prof. Teles e três co-autores. Estes educadores expõem recursos e metodologias aplicados ao aprendizado colaborativo, como jogos, simulações, dramatização, debates e, também, o caso do estudante-professor, quando uma dupla, ou pequeno grupo, gerencia a sala de aula e ensina um tema durante uma ou duas semanas. “A melhor forma de aprender é ensinar! E esta metodologia apóia totalmente o aprendizado colaborativo, com estudantes que assumem o papel do professor”, enfatiza.
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